Publicado em 30 de janeiro de 2023

O termo desnutrição é sempre acompanhado da imagem mental de pessoas magérrimas com seus ossos aparentes, não é? Mas será que a desnutrição sempre está associada à alimentação insuficiente? E o excesso de peso, está sempre associado a uma carga de nutrientes maior do que a necessária?

Sim e não. A resposta pode ser um tanto ambígua, mas vamos explicar melhor.

É possível ter obesidade e desnutrição ao mesmo tempo?

Na verdade, quando o indivíduo está com excesso de peso ou obesidade, há, sim, um tanto de nutrientes excedentes absorvidos. No entanto, geralmente esses nutrientes pertencem a alguns grupos alimentares específicos, os macronutrientes – como carboidratos e gorduras. Ou seja, é possível que outros grupos nutricionais estejam sendo insuficientemente ingeridos ou absorvidos. Isso acontece majoritariamente com os micronutrientes – como as vitaminas e minerais. Dessa forma, apesar do sobrepeso, é possível que uma pessoa tenha deficiências nutricionais. É possível, e inclusive não é raro, que haja um quadro de desnutrição associada à obesidade.

 

De maneira geral, indivíduos obesos têm um alto consumo de alimentos ultraprocessados em detrimento de frutas e verduras, por exemplo. Esse pode ser um dos principais fatores para explicar as suas deficiências nutricionais, uma vez que os alimentos ultraprocessados têm uma alta carga calórica, mas são pobres em micronutrientes. Por isso, as calorias desse tipo de alimento são muitas vezes chamadas de “vazias”. As fontes alimentares mais ricas em vitaminas e minerais são os alimentos naturais e minimamente processados – ou “comida de verdade”, como tem sido batizado por diversos profissionais da área. Se quiser aprofundar a leitura sobre esse tema, clique aqui.

Uma pesquisa realizada pela McKinsey Global Institute revelou que a obesidade representa o terceiro fardo social mais pesado no Brasil, atrás somente da violência e do alcoolismo. Esse trabalho também revelou que as consequências da obesidade representam um gasto equivalente a 2,4% do nosso PIB (produto interno bruto – uma medida econômica que representa toda a soma de todos os bens e serviços produzidos no país). Um dos fatores que agravam o quadro é justamente a associação com a desnutrição, que pode atingir quase a metade dos indivíduos obesos. ¹
 

Algumas das deficiências nutricionais comuns em indivíduos obesos. Adaptado de shutterstock.com, 2023.

Para os indivíduos encaminhados para a cirurgia bariátrica – popularmente conhecida como cirurgia de redução do estômago – esse quadro pode ser ainda mais preocupante. Isso porque o procedimento cirúrgico afeta a capacidade do organismo de absorver alguns nutrientes. Nesse caso, deficiências nutricionais não corrigidas antes da cirurgia podem agravar-se. ²

A cirurgia bariátrica envolve a exclusão de algumas regiões do trato gastrointestinal, visando limitar a ingestão e absorção dos alimentos. Apesar de uma gama bastante ampla de evidências positivas dos efeitos, esse processo é extremamente invasivo e deve sempre ser acompanhado de perto pela equipe multiprofissional. Dentre as regiões excluídas podem estar o duodeno e o jejuno proximal, por exemplo, que são regiões importantes na absorção de várias vitaminas e minerais.

Um estudo brasileiro investigou deficiências nutricionais em 93 homens e mulheres submetidos à cirurgia bariátrica. Os dados demonstraram que 75% apresentaram alguma deficiência, sendo as mais prevalentes de vitamina B12 (31%), ferro (29%), vitamina D (26%) e cálcio (14%). Outros estudos estrangeiros também relataram grande prevalência da deficiência de vitamina B1 (tiamina), zinco, vitamina A, ácido fólico e selênio. ^3–5

Assim, no manejo pós-cirúrgico é imprescindível o acompanhamento das concentrações de micronutrientes no organismo através de exames de sangue periódicos. Além disso, é bastante comum que a equipe de acompanhamento estabeleça um protocolo de suplementação das vitaminas e minerais, uma vez que a capacidade de ingestão alimentar é bastante reduzida e insuficiente para absorção das quantidades preconizadas desses nutrientes além de haver comprometimento do processo de absorção. ⁴

Os alimentos são a nossa fonte de macro e micronutrientes. Por isso uma alimentação equilibrada e adequada para as suas características pessoais é essencial para manter a saúde. Como discutimos hoje, trata-se muito mais de qualidade do que de quantidade. Mas, além da alimentação, podemos recorrer também à suplementação para compor nosso plano nutricional. E você, sabe como andam seus nutrientes?

 

As informações fornecidas neste blog destinam-se ao conhecimento geral e não devem ser um substituto para a orientação de um profissional médico ou tratamento de condições médicas específicas. As informações aqui apresentadas não têm o objetivo de diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença.

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